Hiroshima, Brasil e a Paz

A província de Hiroshima, antes e depois da Guerra, enviou cerca de 15.000 emigrantes ao Brasil. É a quinta província que mais emigrantes enviou ao Brasil, onde, inclusive se localiza o “Centro Cultural Hiroshima do Brasil” na cidade de São Paulo.

Antes da guerra, muitos emigrantes se dedicaram ao severo trabalho nas plantações de café, e essa história pode ser evidenciada, tomando um café brasileiro, considerando seus lavradores. Isso é exatamente o que se denomina o objetivo 12 “Consumo e produção responsáveis” um dos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.

Gostaria de ter uma imaginação robusta que me permitisse saber como as diversas pessoas estão envolvidas no ambiente de produção para oferecer um momento relaxante às outras pessoas em todo o mundo.

Bossa nova, uma sensação de tranquilidade

Em cafeterias, um exemplo típico de música que deixa o ambiente mais aconchegante e confortável, e oferece uma sensação de tranquilidade é bossa nova.

Vinícius de Moraes, quem escreveu a famosa canção “Garota de Ipanema” (composta por Antonio Carlos Jobim), também tem uma canção chamada “Rosa de Hiroshima”, que é amplamente conhecida no Brasil.

A miséria das armas nucleares é colocada numa bonita poesia e melodia, e já mencionada inclusive nos livros didáticos no Brasil, sendo conhecida por muitos brasileiros. Em 2009, a revista Rolling Stone brasileira selecionou esta canção como uma das 100 maiores músicas brasileiras.

A canção foi lançada em 1973, um ano depois do início da construção da primeira usina nuclear no Brasil. Em 1987, houve no Brasil, um acidente radiológico provocado por substâncias radiológicas para fins terapêuticos. O Festival Internacional de Cinema sobre Urânio que aborda questões relacionadas principalmente com energia nuclear e mineração de urânio, nasceu no Rio de Janeiro, e voltará este ano ao Rio para celebrar dez anos, demonstrando o alto interesse dos brasileiros pelo tema.

No Brasil, atualmente vivem mais de 100 sobreviventes da bomba atômica (Hibakusha), e a Associação Hibakusha Brasil pela Paz (dissolvida em 2021) tem uma longa história de atividades.

Nenhum outro país no outro lado do mundo tem um sentimento tão profundo e um vínculo tão forte por Hiroshima.

O evento de bossa nova, realizado às margens da ponte Aioi, que foi o alvo do bombardeio atômico, com uma temática antinuclear e a paz como pano de fundo, é como uma cafeteria que sem dúvida atrairá, não somente os habitantes da província, como também outros apreciadores, vindos de todos os cantos do país, inclusive de fora do Japão. No entanto, o objetivo principal do evento não é gritar pela paz, senão oferecer um momento para mergulhar na música num ambiente agradável enquanto beberica um café bem tirado às margens do rio. E se me perguntam, por quê Brasil? Direi que é pelas razões expostas anteriormente.


Vinícius de Moraes (à direita)
Antonio Carlos Jobim (no piano)

Rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças, mudas, telepáticas
Pensem nas meninas, cegas, inexatas
Pensem nas mulheres, rotas alteradas
Pensem nas feridas, como rosas pálidas
Mas, oh, não se esqueçam da rosa, da rosa
Da rosa de Hiroshima, a rosa hereditária
A rosa radioativa, estúpida e inválida
A rosa com cirrose, a anti-rosa atômica
Sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada

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